Páginas

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

AIDS


1996 COQUETEL CONTRA AIDS FAZ 14 ANOS
CURA DA AIDS

Milheny Silva de Paiva e Willian Victor Souza Pereira

Enfim, a esperança. Um novo coquetel de drogas anima os cientistas a falar no fim da Aids como doença fatal
Eurípedes Alcântara, de Nova York
Nesta semana, Vancouver, no Canadá, marcará seu lugar na história da medicina como a cidade de onde partiu o anúncio das primeiras vitórias significativas da ciência na batalha contra a síndrome da imunodeficiência adquirida. Sede da 11ª Conferência Internacional da Aids, Vancouver está atraindo 15 000 pesquisadores, médicos e ativistas de todas as partes do mundo. Até o próximo sábado, cientistas se revezarão em palestras e mesas-redondas para anunciar com orgulho, quase como uma vingança, os mais estupendos resultados já obtidos na luta contra o HIV, o vírus causador da Aids, a doença que em quinze anos de misteriosa e selvagem proliferação matou 4 milhões de pessoas.
Depois de centenas de tentativas com as mais disparatadas terapêuticas, cientistas conseguiram descobrir e fabricar um coquetel de drogas capaz de conter o crescimento do HIV no organismo humano. O coquetel é 100 vezes mais poderoso do que o AZT, até então o único remédio disponível contra o vírus da Aids. As experiências são animadoras. Pacientes terminais ganham peso, controlam as infecções oportunistas típicas da doença e voltam a caminhar. Alguns retornaram ao trabalho. Ao cabo de três meses de tratamento, pessoas que se infectaram recentemente com o HIV livram-se de maneira quase total do vírus e não sobra o menor sinal dele na corrente sanguínea, mesmo sob o escrutínio dos métodos mais completos de detecção.
"Pela primeira vez temos os instrumentos para combater a Aids: estamos de volta ao comando", diz, eufórico, o imunologista Martin Shechter, o canadense que preside a conferência de Vancouver. A palavra "cura" baila nos lábios dos médicos mas não é pronunciada, pelo menos publicamente. A terapia com o coquetel de drogas é ainda recente e, mesmo diante dos formidáveis casos de recuperação de pacientes, não se pode falar em cura. Os pesquisadores admitem abertamente, porém, que está próximo o dia em que a Aids sairá da lista de doenças fatais para integrar o rol das moléstias crônicas graves. É um alívio sem precedentes na história da doença, e o único sinal de esperança para 1,3 milhão de aidéticos espalhados por hospitais nos cinco continentes. A pandemia de Aids já levou o vírus a 21 milhões de pessoas, entre elas 700 000 no Brasil, que, diagnosticadas ou não, vivem como uma bomba-relógio humana. São reféns do instante pavoroso em que seu organismo finalmente perde a luta silenciosa contra o minúsculo invasor e a doença se instala. A nova multiterapia pode reverter esse cenário. Ela está calçada em surpreendentes descobertas teóricas recentes sobre a origem, a evolução e a natureza do HIV. Ela também se ampara em avanços farmacêuticos que não se supunha possíveis antes da virada do século.

Exibido em: http://assuemevidencia.blogspot.com/2010/04/coquetel-contra-aids-faz-14-anos.html

Revista VEJA
Data: 10/7/1996
Edição: 1452
Pág.: 88-92

Nenhum comentário:

Postar um comentário